Em 2010 a IV Semana de Fotografia do Recife, um evento anual coordenado pelo fotógrafo, curador, produtor (e não tem lista que dê conta de tanta coisa que esse hômi faz) Mateus Sá, que acontecia incorporando diversas atividades gratuitas, incluiu nesse ano específico, uma expedição para a cidade da Zona da Mata Pernambucana, Palmares. Cidade que tem esse nome em homenagem ao famoso Quilombo dos Palmares, e a história de Zumbi que permeiam aquele território. Naquele ano, a cidade sofreu com uma das maiores enchentes do último século, destruindo a cidade inteira, além de outras próximas.
O transbordamento do Rio Una com a alta das chuvas, deixou a cidade em estado de calamidade pública. Poucos meses depois desse período fatídico, a expedição com fotógrafos e outros artistas chega a cidade de Palmares. Uma parte do pessoal montava em praça pública uma exposição do Ricardo Peixoto, Diabolin fazia apresentações circenses e o fotojornalista consagrado Evandro Teixeira caminhava com o grupo de fotógrafos.
Eu tinha ido com um amigo da pós-graduação Felipe Arruda, que carinhosamente chamávamos de Pipo. Ao chegarmos na cidade, todos correram pra padaria, porque havíamos saído muito cedo de Recife, e estávamos famintos. A padaria pequena pro tanto de gente que tinha acabado de chegar de um ônibus lotado.
Tomava meu café com pão de queijo quando passa Evandro ao nosso lado, me olha, me cumprimenta, não lembro muito bem do que falamos, mas cheguei a dizer que já tinha o encontrado uma vez em Caxias do Sul, entre 2007 e 2009 (a faculdade de fotografia promovia encontros com fotógrafos reconhecidos para palestras semestrais), ele gentilmente disse que lembrava, e pediu pra ter cuidado pra não nos atrasarmos. Enquanto isso um grupo de jovens fotógrafos ia atrás dele, como filhotes atrás de uma mãe. (não lembro se eram mais jovens que eu, mas meu espirito velho se sente assim)
Então passamos o dia fotografando a cidade, próximo ao local da exposição pra não nos perdermos. Em um dado monte o grupo foi pra o local que os moradores estavam acampados, mas eu fiquei na cidade caminhando e fotografando, conversando com as pessoas que encontrava, entrando em casas abandonadas.
Quando voltei e olhei as imagens.. aquilo mexeu comigo. Eu tinha um tipo de fascínio por ruínas, me lembro muito do texto "Memória em Ruínas" que a Silvana Boone tinha passado na faculdade... e essa memória em ruínas me suscitava mil coisas, possíveis histórias.
Porque quando eu entrava em cada um daqueles ambientes, não era só as paredes em ruínas, eram restos de roupas, marcas de mãos de lama, a possibilidade de uma cena acontece diante dos seus olhos, e inevitavelmente, me coloco naquele lugar, e se fosse eu?
Quando falo sobre esse trabalho sempre me pergunto, como está a cidade agora? quem eram aquelas famílias que viviam naquelas casas das imagens? onde eles estão agora? quais memórias eles tinham daquele local? outras imagens?
Esse trabalho acabou sendo o mais exposto e divulgado, participou de 3 exposições coletivas, e 1 individual. As 2 coletivas e 1 individual foram na cidade de Caxias do Sul/RS, a Antropolétrico em Lentes na Galeria Soho em 2014, e a Vernissage Coletiva, no Coletivo Labs, ambos projetos da Mona Carvalho Curadoria; e a exposição individual foi na Faculdade da Serra Gaúcha, a FSG em 2015. A outra exposição coletiva foi em Lisboa, no Espaço Exibicionista , com algumas obras que fizeram parte do livro "Essência e Memória vol. V- Antologia Luso-Brasileira de Fotografia Contemporânea.", da Editora Chiado, em Portugal.
o texto da apresentação do trabalho é um poema-história junto com um breve relato sobre a série.
Espero que tenham gostado de conhecer um pouquinho mais de como a série aconteceu e alguns dos seus desdobramentos, vejo vocês na próxima postagem!
xau!